Segundo pesquisa, o alvo desses jovens está voltado para os programas de estágio, que se tornam cada vez mais atraentes
Com uma rotina agitada, entre provas e trabalhos acadêmicos, e ávidos pela rápida inserção no mercado de trabalho, os alunos de graduação estão em busca de oportunidades que, além de contribuir para a formação profissional, ainda se encaixem entre suas tarefas.
Os dados são resultado de uma pesquisa realizada pela Companhia de Estágios – consultoria e assessoria especializada em programas de estágio e trainee – e revelam que, entre os principais objetivos desse grupo, está a vontade de adquirir experiência ainda na faculdade para ter um diferencial competitivo no mercado, por isso, os programas de estágio saem na frente em relação ao mercado celetista.
O principal atrativo da modalidade, à princípio, é a carga horária reduzida, mas, de acordo com especialistas do setor, outros prontos vêm chamando a atenção dos estudantes e tornando o estágio a opção mais cobiçada pelo grupo.
Cenário econômico desfavorável
De acordo com a Carta de Conjuntura, publicada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), os jovens, que historicamente já sofrem para ingressar no mercado de trabalho, foram os mais afetados com o desemprego gerado pela recessão econômica do país nos últimos anos.
O estudo revela que, além da dificuldade maior para conseguir uma vaga, o grupo também possui mais chances de demissão.
Para corroborar essas informações, o relatório da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela que, no primeiro trimestre desse ano, o desemprego cresceu em todas as faixas etárias em relação ao fim do ano passado, mas, proporcionalmente, a parcela jovem da população foi a mais afetada (entre 14 a 24 anos). Segundo a análise, o número saltou para 5,6 milhões de desempregados nessa faixa etária, 600 mil a mais frente à 2017 (+11,9%).
Diante desse cenário desfavorável no quadro formal, aqueles que ainda frequentam as salas de aula, procuram alternativas para não ficarem à margem do mercado, e, entre elas, os programas de estágios vem se destacando.
Sobre o estudo
A pesquisa “O Perfil do candidato a vagas de estágio em 2018”, que contou com 5.410 participantes de todas as regiões do país, identificou que, entre os estagiários em atuação, 47% tem como prioridade poder conciliar o trabalho com os estudos e considera essa a maior vantagem do programa.
Evidenciando o caráter complementar que o estágio tem na vida acadêmica do estudante, 37% desses jovens afirmam que a oportunidade de colocar em prática o que é apreendido na faculdade é o ponto principal, já para 11% desse universo o maior benefício está na chance de aprender sem sofrer a pressão de um cargo efetivo.
Em relação à carreira, o levantamento mostra que, no momento, a maior preocupação dos estagiários é finalizar os estudos (24%) e adquirir experiência para se tornar mais competitivo no mercado de trabalho (24%).
Entre aqueles que ainda estão em busca de uma oportunidade, 74% procura, exclusivamente, por uma vaga de estágio, seguidos por quem é indiferente ao tipo de modalidade e, em último lugar, aparece quem opta por um contrato formal no mercado celetista.
Programas de aprendizagem em alta
De acordo com Tiago Mavichian – diretor da Companhia de Estágios – essa procura acentuada se deve a alguns outros fatores também: “A jornada mais curta é apenas um dos atrativos que chamam a atenção dos estudantes. É claro que é um fator de peso porque se encaixa perfeitamente à realidade que eles estão vivendo no momento, mas não é o único. Diferente do mercado celetista, no qual, segundo os dados do IBGE, a recessão ainda está desacelerando, os programas de estágio já estão recuperados. Nossos dados internos mostram que o setor está reagindo num passo mais animador do que as vagas formais. Para se ter ideia, o número de oportunidades anunciadas em 2017 foi 19% maior frente ao último ano, o que supera os postos perdidos em 2016. Portanto, diante do saldo negativo da CLT, o estágio é, no momento, a melhor alternativa para o jovem”.
O especialista ainda explica que, além do encolhimento dos postos formais, os jovens estão migrando para o estágio em virtude também de outras razões, como o fato de não ter que concorrer com profissionais mais experientes, ou mesmo, de não precisar comprovar experiencia prévia para concorrer a vaga.
“Os índices mostram que, nos dois últimos anos, os estudantes têm priorizado a busca pelo estágio, participando, inclusive, de mais entrevistas nessa categoria em detrimento das vagas efetivas. Tanto que, no último triênio, o número de candidatos inscritos em busca de vaga aumentou mais de 20%” – acrescenta Mavichian.
Maior competitividade
Um dos efeitos da alta procura é a disputa acirrada. Foram mais de 200 mil inscritos para os processos seletivos realizados pela recrutadora em todo o Brasil, somente em 2017. E, engana-se quem atribui essa alta à facilidade das entrevistas, pelo contrário.
De acordo com a pesquisa, a maioria dos participantes não vê diferença no nível de competitividade/dificuldade dos processos para vagas de estágio ou celetistas. Embora os programas de aprendizagem sejam voltados, exclusivamente, para os estudantes e não exijam experiência anterior na área, o aumento da demanda tornou mais rigorosos os filtros dos recrutadores para identificar melhor o perfil mais indicado a cada vaga.
A boa noticia é que a expectativa do setor continua favorável e a previsão é de crescimento. Mavichian afirma que a boa fase que o mercado de estágio atravessa atualmente tende a ser ainda mais positiva diante dos índices encontrados: “A projeção para 2017 foi superada e a tendência é que o saldo desse ano continue aumentando. A estabilização do mercado é um indicativo de que as empresas estão se recuperando e, consequentemente, os postos podem ser retomados. Mas, vale lembrar que, em contrapartida, a concorrência também continua crescendo, portanto, para se destacar é preciso investir em qualificação e se preparar” – conclui o especialista.