Mesmo impactados pela crise, estudantes seguem no propósito de aprender uma língua estrangeira e se tornarem mais competitivos
Fortalecer o currículo é, historicamente, uma das maiores preocupações dos jovens que estão na busca por um emprego. Ainda em formação e, muitas vezes, sem qualquer vivência profissional, esses candidatos precisam demonstrar habilidades capazes de cativar os recrutadores durante o processo seletivo.
E, com a retração de vagas do mercado formal, esse documento ganhou um peso ainda maior: os menos experientes são, justamente, os que mais sofrem para conseguir uma oportunidade e precisam, mais do que nunca, contar com diferenciais que aumentem sua competitividade. Nesse momento, os estudantes já têm uma preferência: contar com um segundo idioma.
De acordo com uma pesquisa especializada, realizada pela Companhia de Estágios, saber falar uma língua estrangeira é apontado, pelo segundo ano consecutivo, como a habilidade mais desejada e mais valorizada por esse público.
Competitividade e remuneração
O levantamento realizado pela Companhia de Estágios – consultoria e assessoria especializada em programas de estágio e trainee – ouviu mais de 5 mil estudantes de todas as regiões visando identificar o perfil do jovem que concorre a vagas desse tipo no Brasil.
Nesse estudo, 60% dos entrevistados, majoritariamente universitários entre 18 e 24 anos, afirmaram que o domínio de uma língua estrangeira é a característica que eles mais gostariam de ter no currículo.
A habilidade profissional supera, inclusive, o interesse por habilidades interpessoais (19%), pelo conhecimento de mais tecnologias (12,5%) ou, até mesmo, pelo nível de português/oratória.
De acordo com Tiago Mavichian, diretor da recrutadora, esse fenômeno pode ser explicado por dois fatores: a relevância que essa habilidade tem no mercado atual e, também, na remuneração ofertada: “No Brasil, saber falar outro idioma sempre foi uma característica profissional desejável, principalmente para os cargos gerenciais. Mas, no cenário atual de alta concorrência entre os candidatos, aptidões como o domínio de inglês ou espanhol podem acabar se tornando filtros das etapas de seleção, inclusive para vagas de estágio. Por mais que essa característica não seja sempre um requisito, pode ser determinante para os benefícios: os valores de bolsa auxilio podem ser 30% maiores quando a vaga exige o domínio de outro idioma”.
Mas, apostar no inglês não significa apenas um rendimento maior: a empresa já foi responsável pelo recrutamento de trainees para multinacionais que, dentre outros benefícios, possibilitavam uma experiência profissional no exterior. Um dos principais requisitos? Dominar o idioma.
Investimento futuro
E, ainda que o orçamento apertado tenha dificultado o acesso de muitos jovens aos cursos de idiomas, a maioria segue firme no propósito de incluir essa habilidade no currículo: de acordo com a recrutadora, que já rastreia esse comportamento desde 2016, o número de estudantes que, em virtude da crise, adiaram o plano de especialização diminuiu.
Se há dois anos metade dos entrevistados que pretendiam apostar numa língua estrangeira para fortalecer o currículo não conseguiram colocar o plano em prática, atualmente, pouco mais de 40% alegam ter adiado o projeto devido ao momento econômico. Dentre os jovens que conseguiram fazer algum tipo de investimento em especialização no último ano, 19% optaram pelo inglês.
Por que é preciso investir?
Segundo Rafael Pinheiro, gerente de recursos humanos, embora muitos jovens não vejam o idioma estrangeiro como uma urgência na carreira, é preciso considerar o momento que o país atravessa: “Diversos índices demonstram que o cenário é mais desafiador para quem está no início da carreira, não só pelo nível de exigência dos empregadores, mas também porque a alta competitividade tem gerado muita insegurança entre esse público.
E, nesse âmbito, o inglês pode ser uma excelente aposta pois, além de ser uma habilidade que pesa no currículo, ajuda a aumentar a confiança do candidato. Outro ponto relevante é que, comparado a outras especializações, pode ser mais flexível e acessível para os jovens que ainda estão se formando”.
Pinheiro se refere aos dados recentes da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios Contínua (PNADC) – realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo o levantamento, o índice de desemprego na faixa etária entre 18 e 24 anos já ultrapassa os 28%.
Além disso, um estudo feito pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) indica que o medo do desemprego é maior entre os novatos. “Portanto, o ideal é que o jovem não fique aguardando uma mudança de cenário para apostar na qualificação. Quanto mais cedo ele buscar aprimoramento, mais chances têm de ficar fora dessas estatísticas” – complementa Tiago Mavichian, diretor da Companhia de Estágios.