Pesquisa revela, no entanto, que os jovens dão prioridade ao aprendizado de um idioma estrangeiro
O domínio da língua materna é essencial, independente da área de atuação, por isso é cada vez mais comum a aplicação de testes no processo seletivo para avaliar essa habilidade e outras competências ligadas a ela, como boa argumentação, síntese, coerência e gramática.
Formar frases coesas, seja em uma conversa oral ou na forma escrita, é o mínimo que se espera dos jovens no mercado de trabalho, no entanto, uma pesquisa especializada constatou que, diante dos testes aplicados pelos recrutadores, essa é, justamente, uma das maiores dificuldades dos estudantes.
O mais curioso é que, ao invés de preencher essa lacuna deficiente, a maioria concentra seus esforços no aprendizado de outro idioma, porém, de acordo com especialistas do setor, se o jovem apresentar falhas no português essa estratégia pode ser invalidada.
É claro que ter uma segunda língua é cada vez mais importante no ambiente profissional atualmente, mas se a língua materna deixar a desejar as chances de conquistar uma vaga diminui ou, dependendo do setor, ficam quase nulas.
Sobre o estudo
A pesquisa “O Perfil do candidato a vagas de estágio em 2018”, realizada pela Companhia de Estágios – consultoria e assessoria especializada em programas de estágio e trainee – que contou com 5.410 participantes de todas as regiões do país, identificou que entre as principais dificuldades dos candidatos estão os testes relacionados à língua portuguesa.
A matéria que, teoricamente, deveria ser a mais fácil para os brasileiros, já que se trata de nossa língua materna, é na verdade uma das mais preocupantes. De acordo com o estudo, 37% dos entrevistados alegam que, durante um teste no processo seletivo, têm mais dificuldade com questões de ortografia, gramática e redação.
Metade desses jovens atribui essa deficiência à própria falta de interesse pelo tema, que os levam a estudar menos o português. No entanto, 24% alega ter pouco embasamento escolar e 26% afirma que, mesmo se esforçado, ainda tem dificuldade de assimilação com a matéria.
Mas, apesar de terem consciência sobre o problema, apenas 16% dos estudantes afirmam que o aspecto do perfil profissional que mais gostariam de melhorar é o português/oratória. De acordo com o levantamento, a maioria dos candidatos a estágio (58%) está mais preocupada em aprender um idioma estrangeiro, especialmente o inglês.
Processo seletivo rigoroso
O desemprego no país aumentou nos últimos anos e, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) os jovens foram os mais prejudicados, por isso, aqueles que ainda frequentam as salas de aula passaram a recorrer mais ao estágio.
Com a alta demanda, os processos seletivos ficaram ainda mais exigentes, tanto que, de acordo com o levantamento, os estudantes classificam o nível de dificuldade e competitividade das entrevistas para estágio semelhante ao das vagas celetistas.
Diante disso, Tiago Mavichian – diretor da Companhia de Estágios – explica que é cada vez mais comum a adoção de testes pelos recrutadores nas entrevistas para aumentar a qualidade do filtro e encontrar o melhor perfil para determinada função: “A disputa acirrada entre os jovens é um dos efeitos colaterais da crise que o país enfrenta nos últimos anos. Para não ficarem à margem do mercado, muitos recorrem aos programas de estágio, especialmente aqueles em início de carreira, pois não é preciso experiência prévia para concorrer a uma vaga. Por isso é natural que, com o aumento da procura, o processo se torne mais rigoroso e, para se destacar, é preciso estar preparado para os testes”.
De acordo como especialista, apesar da fama assustadora dos testes de matemática e lógica, a pesquisa comprovou que as redações e perguntas objetivas intimidam mais os estudantes justamente pela falta de segurança ao escrever.
Língua materna deve ser uma prioridade
Apesar da dificuldade maior em relação ao português, o levantamento revela que os jovens estão priorizando o aprendizado de outras línguas, especialmente a inglesa. De acordo com Rafael Pinheiro, gerente de Recursos Humanos, há uma inversão de valores nesses casos, pois o ideal é preencher a lacuna que falta na língua materna para depois investir em outro idioma: “Em uma entrevista de emprego o português é avaliado a todo momento, mesmo que não sejam aplicados testes escritos. A oralidade é muito importante e o discurso, geralmente, tem um tom mais formal, por isso, qualquer erro será facilmente percebido pelo recrutador. Um segundo idioma é muito valorizado no mercado de trabalho, mas se a nossa língua não estiver em dia isso não ajuda muito e o candidato perde a credibilidade. Por isso o português deve ser aprimorado constantemente” – explica o especialista.
Informalidade se reflete no texto
A fala e a escrita são essenciais para uma boa comunicação, especialmente no ambiente de trabalho e, mesmo que pareçam distintas, uma está diretamente relacionada à outra. O jeito que falamos, muitas vezes, influencia nosso texto, por isso, no campo profissional é preciso ter um cuidado redobrado.
A linguagem da internet e mensagens de texto é, geralmente, uma porta de entrada para a informalidade, o problema é que depois de se habitar a ela fica difícil se desvencilhar e, segundo Pinheiro, é aí onde mora o perigo: “Isso é muito perceptível quando o candidato participa de testes que exigem a escrita, pois alguns acabam escrevendo da maneira que estão habituados e falar e esquecem da pontuação, especialmente das vírgulas. A abreviação de palavras também é um erro comum decorrente da linguagem da internet. Além disso, se as palavras forem pronunciadas de maneira incorreta, isso acaba sendo transmitido no texto, por isso é preciso muita atenção, pois essa é uma das fases que mais elimina os entrevistados”.
Como se destacar nessa matéria
Para ter mais segurança e se sair bem nos processos seletivos que exigem algum teste de português ou, até mesmo, para melhorar o desempenho nos estudos ou trabalho é preciso praticar a forma correta da língua em qualquer oportunidade. Para isso, existem algumas dicas estratégicas que podem ajudar a aprimorar os conhecimentos em português e valorizar o idioma, confira a seguir:
Invista na leitura: essa dica é infalível. O hábito de ler é obrigatório para todos que querem escrever e falar bem. Além de aumentar o vocabulário, a leitura ainda ajuda a aprender as regras gramaticais como consequência. É possível escolher diversos tipos de textos, desde revistas de entretenimento a livros técnicos ou clássicos da literatura, pois variar os estilos ajuda a ampliar o conhecimento literário. Através da leitura é possível se manter informado, o que é essencial para elaborar o conteúdo um bom texto.
Pratique a escrita: a redação, seja no vestibular ou na entrevista de emprego, é uma das coisas que mais assustam os estudantes, portanto, para perder esse medo e ganhar segurança, é preciso praticar. Uma boa estratégia é começar a escrever corretamente nas redes sociais e mensagens de texto. Ler em voz alta o que escreveu ajuda a identificar os erros, e, apesar de não parecer, escrever também contribui para o desenvolvimento da oratória, pois através da escrita aprendemos a construir corretamente as sentenças e melhorar a fala.
De olho na gramática: a maior amiga do escritor e do orador é a melhor fonte para sanar as dúvidas e a base para a construção da linguagem. Essa grande aliada não deve ser menosprezada, no entanto, vale lembrar que a língua é evolutiva, portanto, não se limite à gramática, pois a estilística também é muito importante para valorizar o texto e a oratória.
Evite palavras rebuscadas e estrangeiras: palavras bonitas e, geralmente, desconhecidas não agregam valor e ainda tornam difícil a compreensão do texto. Por isso ele deve ser simples, mas com um vocabulário amplo. O ideal é evitar repetições que empobrecem o texto e o uso de palavras de outros idiomas que o tornem confuso para um leitor desprevenido.
Aproveite as férias
O período do ano mais esperado pelos estudantes é o merecido descanso depois de um turbilhão de provas e trabalhos, no entanto, é também o momento ideal para desenvolver ainda mais o aprendizado e se preparar para o mercado.
E, ao contrario do que muitos pensam, isso não precisa ser mais uma tarefa extenuante. É possível praticar atividades agradáveis que ajudem a agregar novos conhecimentos. Quem deseja aprimorar o português pode investir em grupos de estudos que vão desde escrita à leitura conjunta, com metas e discussões sobre temas variados.
Nas redes sociais há diversas opções com temas para todos os gostos. Assim, além de aprimorar o idioma, ainda é possível conhecer novas pessoas com os mesmos interesses. Outra opção é aproveitar o tempo livre para criar um blog ou portfólio online, que é ideal para expor seus trabalhos ou escrever sobre assuntos variados de seu interesse, buscando sempre melhorar o português e aperfeiçoar a escrita.